Entrevista com Júlio Cézar concedida ao site www.baixo natural.com.
BN - Como foi o seu primeiro contato com a música e como foi essa escolha pelo baixo? Quando resolveu ser profissional do instrumento e viver de música?
JC - Meu primeiro contato foi através do piano com mais ou menos uns 5, 6 anos de idade em um conservatório de música na minha cidade!!! Estudei lá por mais de 2 anos, depois disso parei um pouco, mas graças à Deus quando nós aprendemos alguma coisa enquanto criança ele realmente perdura em nossas vidas. Toda teoria dos anos de estudo do piano me serviram e ajudaram muito no aprendizado do contrabaixo!!! Enquanto isso meus irmãos Kim e Cezar, montaram uma banda, e o cachê de um dos poucos shows que essa banda teve foi um baixo e uma guitarra! A guitarra é claro ficou com meu irmão Cezar, e o baixo ficou para o meu outro irmão Kim, que pegou o instrumento achou que não tinha nada haver com ele, olhou para mim e perguntou:
- Quer esse negócio para você?
Eu respondi na hora! - É claro!!!
Quando peguei no baixo pela primeira vez para tocar foi que eu percebi que não fui eu que havia escolhido o baixo, e sim ele quem havia me escolhido.
Depois de mais ou menos uns 3 a 4 meses eu estava gravando com eles o 1º LP da Banda Catedral e assim me tornando um profissional da música, foi tudo muito rápido e sem nenhuma dificuldade!! Sempre pareceu que tocar o baixo era uma extensão natural das coisas que eu faço normalmente.
O bacana é que isso aconteceu sem nenhuma premeditação. Eu na verdade só queria brincar com meu novo brinquedo, não tinha a intenção de ser famoso, como a maioria das bandas e músicos que começam hoje em dia tem!!! Mas desde a primeira vez que eu peguei no baixo eu sabia que queria ser grande nesse instrumento.
BN - Você hoje em dia também é professor de contrabaixo, como isso influência na sua maneira de compor e até mesmo como conciliar a vida de professor com a de músico que sai em turnê?
JC - Não é bem hoje em dia, na verdade eu dou aula de música com especialidade em contrabaixo há mais de 21 anos. Estou ficando velho!!!Rs...rs...
Eu uso às vezes algumas músicas da banda e até solos para dar de exemplo nas aulas.
Nesse novo CD M.I.M que faz parte do Álbum Azul, eu fiz algumas coisas nesse sentido, mas acho que elas aconteceram naturalmente, a música sempre me diz o que fazer!!! Por exemplo, na música Amanhã que está no Myspace da banda eu estou solando em lídio com o baixo Piccolo! Em Asfixia que também está lá tem um momento do solo onde eu uso a pentatônica menor sobre o acorde maior e gero um pequeno momento de blues dentro do solo! Essas superposições com exemplos audíveis em coisas reais como uma música que está ali gravada para o resto da vida são mais fáceis de serem assimiladas pelo aluno. Muita das vezes você passa esse tipo de coisa em exercícios para o aluno fazer, mas ele pensa: Nunca vou usar isso!!! Esse cara está me enrolando!!!
Assim com essa forma de exemplo ele não pode falar isso, afinal você usou e está ali gravado e eternizado...
Meus alunos já sabem que as aulas volta e meia, precisam ser organizadas devido à agenda de shows e compromissos, até por isso mesmo, eu sempre tento organizar meus alunos com aulas durante a semana, que fica muito mais tranqüilo para mim tendo em vista que a maior parte dos shows acontecem nos finais de semana.
BN - Nos fale um pouco do equipamento que você usa em shows e em gravações.
JC - Estou usando a captação Alumitoni da Lace Sensor, empresa que me achou há um tempo atrás na net e entrou em contato comigo me perguntando se eu gostaria de fazer parte do ALL STARS TIME deles! Quando eu perguntei quem fazia parte e o que era a Lace? Eles me responderam que fizeram os captadores para a Fender por 30 anos e quem encabeçava a lista do seu time era simplesmente Eric Clapton!!! É óbvio que aceitei, mas mesmo assim pedi para não ser exclusivo, pois não poderia por enquanto deixar de tocar meu Ken Smith, principalmente nas gravações. Estou usando um baixo que foi desenhado por mim e feito por um grande luthier chamado Miguel. Ele é um baixo diferente, pois nós desenvolvemos uma maneira de fazer com que dois baixos se unam em um contrabaixo de dois braços.
Com isso eu toco com um baixo de 6 cordas nos shows e quando preciso do baixo Piccolo ele simplesmente é acoplado ao de 6 e eu posso tocar aquela música com eles e logo em seguida me desfazer do Piccolo e voltar a ficar somente com o baixo de 6 cordas no palco! Isso é super necessário devido ao peso do instrumento quando está montado. Nos efeitos eu estou usando um setup com pedais da Fuhrmann que são excelentes, citando alguns: Analog Delay, Enveloper Filter, High Gain, Bass Fuzz, Chorus, são alguns que estou usando no momento.
Fora isso uso também o baixo de 5 cordas Helix da Lace, meu Danelectro Longhorn, um fretless de 4 cordas também de luthier, um baixolão da Takamine EG-512C, o acústico americano de ¾ e agora estou a espera do meu novo baixo acústico que está sendo feito por um cara que é um verdadeiro artista chamado Eliel Marcos do Ateliê Hossony! Ele está aprontando para mim o Pull Emper Bass também de ¾ que é uma verdadeira obra de arte. Veja a foto do contrabaixo em 1º mão lá no meu blog: http://www.juliocezar.art.br/blog/?p=807
Sobre amplificadores, em casa estou usando o Hartke, mas na estrada isso às vezes muda! Hoje é muito mais fácil ter bons amplificadores em todas as regiões do Brasil e como não assinei com nenhuma empresa nesse sentido, posso me dar ao luxo de não precisar levar o amplificador peço no meu set list alguns nomes de amplificadores importados que funcionam bem para mim e pronto.
BN - Hoje com a internet o músico iniciante tem acesso a diversas informações. Na sua opinião este processo ajuda ou acaba prejudicando? E em comparação ao tempo em que você iniciou seus estudos o que mudou no ensino musical no Brasil?
JC - Para mim ajuda e prejudica! Por isso sou um defensor dos livros no ensino da música e os acho muito melhores e mais interessantes que as vídeos-aula, não que eu seja contra, longe disso! Só acho que sem a ajuda de um profissional para direcionar quem está aprendendo o que acabamos tendo são cada vez mais papagaios musicais em seus respectivos instrumentos, e para isso os vídeos contribuíram muito. No meu tempo se eu gostasse de um solo ou de uma música e o quisesse tocar, eu teria que parar em frente ao toca discos ou ao aparelho de fita K7 para ouvir o solo e assim tirá-lo. O que acabava acontecendo era que, eu tirava e tocava do meu jeito sem imitar o músico que havia feito aquilo, com o vídeo isso acabou, hoje temos gente que balança o cabelo igual palheta igual, dança igual e quase como se estivéssemos vendo uma Xerox! Um aprendizado para a vida e não só para a música e algo que eu digo sempre ao meus alunos é que “a xerox nunca será igual ao original” “Por isso precisamos achar o seu “eu” no que você está fazendo”.
Uma pessoa que está iniciando na música adora ser comparada a grandes músicos.
Nossa! Você está tocando igual ao Jaco, ou Marcus Miller, ou qualquer outro...
A tendência é a pessoa ficar feliz da vida, mas acredite em mim, depois de alguns anos no seu instrumento você vai querer tocar igual a você mesmo, afinal o instrumento para mim é o meu canal onde posso me expressar, e para eu poder me expressar eu tenho que ser eu e não outra pessoa... Por isso gosto muito quando recebo os elogios e as críticas, pois elas sempre vêem do mesmo jeito, sempre direcionadas a minha pessoa.
Pois para mim o mais importante é você ter identidade no seu instrumento, e ser reconhecido e conhecido pelo toque que sai das suas mãos...
Uma vez recebi um e-mail assim:
Os que gostam dizem: Cara hoje estava passando na rua ouvi uma música alta em uma casa estava num solo de baixo e eu parei e pensei esse é o Júlio Cezar tocando e logo depois entrou a voz do Kim e percebi que estava certo e se tratava realmente do Catedral... Esse me conhece pelo jeito de tocar...
E os que não gostam: Detesto o jeito dessa cara tocar, não gosto da maneira que ele faz os solos e as bases...Ou seja: Esse também me conhece pelo jeito de tocar!!!
E para mim isso é a maior retribuição pelos anos de pratica!!!
Temos hoje muito mais acesso a informação, o que é realmente bom, volto a falar só me preocupa um pouco à questão da formação de nossos novos talentos.
BN - 4, 5 ou 6 cordas? por quê?
JC - Aí depende!!! Para o slap eu prefiro o de 4 cordas e que não tenha captadores muito próximos ao braço, já para o pizzicato o de 6 cordas aumenta muito minhas possibilidades nas variações das alturas das notas sem falar na diminuição da distância entre as cordas o que facilita ainda mais para quem toca rápido. Agora se o assunto for Jazz, aí não tem pra ninguém o baixo é o acústico. Para resumir o baixo de 5 cordas para mim é o menos interessante, mas também não o descarto.
BN - Quais suas maiores influências? O Brasil é um país com muitos baixistas, alguém te chama mais atenção nos dias de hoje?
JC - Tenho muitas! No acústico por exemplo, posso citar: Slam Stewart, Charles Mingus, Ron Carter, Eddie Gomes, Brian Bromberg, Dave Holland, Stanley Clarke, Edgar Meyer, etc. No elétrico lá de fora posso citar: Jaco Pastorius, Marcus Miller, Brian Bromberg, Stanley Clarke, Jeff Berlin, Geddy Lee, Billy Sheehan, etc. Do Brasil tenho dois caras em especial, que são: Arthur Maia e o saudoso Nico Assumpção.
Nessa vida de compositor, produtor, arranjador, professor, escritor para o meu blog e de um livro de música que lancei (“Improvisando com Júlio Cezar”) e ainda artista realmente não tenho acompanhado muito bem o que vem acontecendo, mais o Brasil é cheio de talentos, e graças a Deus sinto que estamos vindo em uma crescente no meu instrumento, o que me deixa muito feliz!!! Só para não dizerem que não citei nenhum nome vi um vídeo outro dia do Thiago Espírito Santo e fiquei muito feliz, que músico excelente esse rapaz.
BN - O processo de se tornar uma grande referência pra outros músicos é involuntário, porém, hoje que você se tornou tal referência isto afeta de alguma forma na hora de você produzir suas músicas e suas linhas de baixo?
JC - Isso é um pouco engraçado, pois quando não estou com o baixo nas mãos, às vezes eu penso nisso. Tenho que fazer alguma coisa assim ou assado, só que isso realmente desaparece quando pego o contrabaixo e começo a ouvir a música em que eu vou trabalhar. A partir daí é ela (a música) quem me diz o que eu tenho que fazer! Isso com relação aos arranjos, pois como compositor a questão é outra. Eu até posso fazer uma música totalmente pensada como uma equação usando formulas, mas sinto que elas não tem alma. Nesse aspecto acredito que Deus separou algumas pessoas que realmente conseguem ouvir as melodias que estão flutuando por aí e assim servirem de canal para os que não conseguem ouvi-las... Eu sinto assim, pois já fiz música até dormindo, estava sonhando e quando acordei a melodia completa que não saía da minha cabeça.
O nome dessa música é “Estrelas do Amanhã” do Catedral.
O solo que para mim é uma música dentro da música, uma história a ser contada, nesse caso eu consigo às vezes pensar em ir por um caminho ou outro, ou não!!! Na verdade a música sempre me diz o que fazer. Sou um apaixonado pela música e quando estou improvisando cada nota que eu toco me deixa ansioso pela próxima, e a próxima, e a próxima, até que a história que estou narrando termine de ser contada.
BN - Quais seus projetos atuais, No que o Júlio vem trabalhando hoje em dia? O que você pretende para o ano de 2012 na sua carreira?
JC - Lancei esse ano um CD que traz o último registro de guitarras gravadas pelo meu irmão Cezar, O nome do CD é “O Último Duo” e marca o início da minha carreira solo em projetos de música instrumental, além de ser uma forma de homenagem aos fãs que curtiam o trabalho do meu irmão. O Catedral está lançando o Álbum Azul que é um livro de luxo com apenas 3000 exemplares para o público. A idéia é realmente deixar o produto raro e cobiçado entre os fãs!!! Junto dele está um CD com 14 faixas inéditas que é o nosso Maior Idade Musical o M.I.M. Para o ano de 2012 vamos correr o Brasil divulgando esse novo projeto que dessa vez estamos fazendo de forma independente, o que vem sendo uma nova e bacana experiência para todos nós. Tem uma surpresa para a galera que pode ser que pinte em maio ou quem sabe, mas para o meio do ano para lá que também envolve o Catedral, mas essa é surpresa!!! Fora isso vou continuar com as aulas, pois adoro ver esse processo de transformação e aprendizado dos alunos, e workshops que deram uma crescida nesse ano de 2011, espero que seja ainda melhor em 2012. Quem sabe alguns shows com o meu projeto instrumental também.
BN - Falando de Catedral, a banda conta com uma longa carreira, nestes tantos anos, pra você qual o momento inesquecível e o momento mais difícil?
JC - Já são 23 anos de muito sucesso graças a Deus!!! O momento mais difícil é claro e notório entre as pessoas que acompanham o nosso trabalho que foi a perda do meu irmão Cezar que era o guitarrista da banda. Foi realmente muito difícil subir ao palco de novo sem meu irmão do outro lado.
Quanto ao outro momento, acho que estamos vivendo um momento inesquecível agora, com o lançamento do nosso Álbum Azul + o CD M.I.M (Maior Idade Musical), pois esse é o nosso primeiro trabalho independente, a muito tempo queríamos fazer um trabalho independente, mas a comodidade de ter uma gravadora fazendo as coisas por você sempre nos atrapalhou, mas dessa vez devido à idéia muito especial que o Guilherme teve de fazer um produto exclusivo para poucos fãs nós resolvemos dar um start (início) nessa nova fase de independência, para lançarmos os nossos próprios produtos...
BN - Vocês sofreram algum tipo de preconceito pelo estilo da banda lá no início de carreira? Chegar no mainstream com músicas que falam de amor e Deus, no seu ponto de vista marca uma época e muda totalmente a concepção nacional sobre este estilo?
JC - Nós sempre sofremos preconceitos!!! No mercado gospel falavam que nós não éramos gospel e sim popular. Quando conseguimos romper as barreiras do mercado e fomos até mercado popular, nós já éramos tão conhecidos por sermos a banda principal do mercado gospel, que o mercado popular dizia: Essa banda não é popular é gospel. Foram dois inícios e conseguimos vencer nos dois, apanhamos muito, mas acho que quem vem na frente sempre leva algumas pedradas mesmo. Hoje ouvimos música gospel fazendo sucesso em rádios populares, emissoras de TV fazendo especiais para a música gospel, é claro que a visão, (não se enganem os cristãos) é sempre comercial. Mas mesmo assim já é um grande avanço, e não se pode negar que o Catedral foi quem deu o ponta pé inicial nisso tudo.
Rompemos muitas barreiras, fomos à banda de rock mais executada da MTV Brasil se eu não me engano em 2004, na nossa frente somente 3 nomes internacionais, fizemos grandes programas como Altas Horas na globo, recebemos um disco de ouro no Raul Gil, tocamos nas principais rádios de todo o Brasil. Isso tudo com certeza ajudou e muito para que hoje as pessoas não torçam tanto o nariz para a música gospel...E para nós isso tudo foi muito importante, pois o nosso público entendeu que o nosso trabalho é totalmente artístico. Sofremos um pouco, mas hoje temos a liberdade de gravarmos quem nós quisermos, e o que nós quisermos, como fizemos num CD de tributo ao Elvis Presley, depois sentimos vontade de fazer um CD de tributo aos fãs da nossa fase gospel e fizemos o CD Pedra Angular. Amanhã ou depois se nós resolvermos gravar Milton Nascimento, Beto Guedes, Chico Buarque, Renato Russo, Rush, Logos, Vencedores por Cristo, nós simplesmente gravamos. Hoje o nosso público que é o que importa para a gente entendeu que temos a nossa fé separada do nosso trabalho, e nós ao contrário do que fizeram com a gente não temos preconceito com nenhum dos dois mercados.
BN - Onde o leitor do Baixonatural pode entrar em contato direto com seu trabalho?
JC - Pelo meu site: www.juliocezar.art.br e o e-mail julio@juliocezar.art.br tendo atender a todos na medida do possível!!! Todas as informações sobre aulas, workshops, shows, é só mandar o seu e-mail e aguardar.
Fonte: entrevista ao site www.baixonatural.com
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